Em março, expedição iniciou busca a possíveis vestígios do Forte de Santa Maria de Guaxenduba, do início do século XVII

Uma das batalhas mais importantes pela disputa do território do atual estado do Maranhão, travada há mais de 400 anos na Baía de São José, nas proximidades do município de Icatu, pode voltar a atrair a atenção de estudiosos da história do Brasil. Em março deste ano, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), através de sua superintendência do Maranhão, realizou expedições arqueológicas ao povoado de Santa Maria, em Icatu, com o objetivo de identificar e iniciar estudos para registro e cadastro do Sítio Arqueológico das Ruínas do Forte de Santa Maria de Guaxenduba. Foto: Alexandre Burity/Iphan
Na literatura e em documentos históricos, as coordenadas de localização da antiga edificação, hoje em ruínas, apontam para o topo das formações de falésias encontradas ao longo da praia de Santa Maria. Segundo a arqueóloga-chefe da expedição, Sara Santana, a fundamentação da pesquisa se concentra na interpretação da literatura histórica com apoio cartográfico. “Como se trata de um sítio de tipologia histórica, estamos realizando a pesquisa em bibliografia e cartografia, para ter a certeza exata de sua localização. Assim seguimos com a aplicação de métodos e técnicas arqueológicas na compatibilização com a historiografia a partir dos vestígios encontrados”, afirmou.Foto: Alexandre Burity/Iphan
O cadastro de sítios arqueológicos é realizado por meio do envio da Ficha para Registro de Sítios Arqueológicos, que pode ser preenchida por arqueólogos(as) devidamente autorizados ou por qualquer cidadão que identifique vestígios arqueológicos. Nestes casos, é necessário informar a descrição e a localização do achado à superintendência do Iphan no estado onde foi feita a descoberta, utilizando qualquer meio de comunicação disponível.
A Ficha para Registro, instituída pela Portaria Iphan nº 241, de 19 de novembro de 1998, deve ser preenchida conforme as orientações do Manual de Preenchimento da Ficha. As imagens que acompanham o registro devem ser identificadas por meio da Ficha para Preenchimento de Legendas das Fotografias Digitais, que também deve ser enviada junto com a Ficha de Registro, em formato Access.
O Forte de Santa Maria de Guaxenduba
Projetado em 1614 pelo engenheiro-militar da Coroa Portuguesa Francisco Frias de Mesquita, a edificação foi erguida com alicerce de pedra, mas estruturada em madeira. Tinha formato hexagonal, e nela se assentavam três peças de artilharia em uma esplanada, enquanto os baluartes e cortinas da obra se formavam de grossas vigas, assentadas sobre grades e cruzadas de peralto de fortes travessas.
O historiador e mestrando do programa de Mestrado Profissional em Patrimônio Cultural do Iphan Victor Arcanjo ressaltou a importância das ruínas e dos elementos encontrados no local onde ficava a edificação do Forte de Santa Maria de Guaxenduba. “O sítio e os elementos encontrados por populares e comunitários evidenciam o início da colonização dos portugueses no estado do Maranhão, mas também o início da expansão portuguesa no Norte do País. Ou seja, sua importância é a nível nacional”, disse ele.
A Batalha de Guaxenduba
Confronto militar ocorrido em 19 de novembro de 1614, próximo de onde hoje se localiza a cidade de Icatu, a batalha foi um importante passo dado pelos portugueses para a expulsão definitiva dos franceses do Maranhão, a qual possibilitou que grande parte do Norte brasileiro passasse definitivamente para o domínio e colonização portuguesa.
Para o morador local José de Ribamar, o reconhecimento das ruínas é motivo de orgulho para ele e sua família, pois assim se tornará um ponto de visitação e pesquisa. “Desde criança eu ouço essas histórias dos franceses e portugueses nesse lugar. E é verdade, as ruínas estão lá pra quem quiser vê-las. Muitos moradores já encontraram balas de canhão do confronto”, conta. “Nós somos filhos dessa terra e ver nosso lugar tendo o valor que merece, não tem dinheiro no mundo que pague.”
O arqueólogo Cleberson de Albuquerque da superintendência do Iphan no Maranhão, alerta que é importante preservar no local os materiais encontrados e que a melhor solução é informar as autoridades competentes. “É necessário que os comunitários e moradores de localidades que tenham elementos arqueológicos entrem em contato com o Iphan ou universidades e instituições de ensino superior, para que as mesmas auxiliem no encaminhamento junto ao Iphan, a fim que se dê início à fiscalização do local, constatando se realmente o material encontrado pertence a um sítio arqueológico”, frisou.